Sobre Maternidade Real
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Hoje o texto é da Marcella Martinelli, mãe da Mariah, responsável pelo instagram @marcellamaternando, que tem como intuito expor o que é a maternidade real, aquela, fora do conto de fadas. Conversa sobre uma parentalidade consciente, abrindo o coração sobre o que é o real universo materno.
Considero muito pertinente, visto que das mães, tanto é cobrado. Felicidade, amorosidade, paciência, como se a partir do nascimento, deixássemos a humanidade para beirar a santidade.
Convido a todas nós, mães, a viver a empatia, e sentirem-se abraçadas, por sentimentos de uma mãe real, para outra:
"Sobre maternidade real
Atualmente ouvimos falar bastante em maternidade real. Quem é assíduo em redes sociais já deve ter passado algumas vezes por um #maternidadereal. Mas o que é essa coisa de maternidade real? Muitos devem se perguntar se existe alguma maternidade irreal? Então, já ouviram falar da grávida de Taubaté?!
Brincadeiras à parte, o termo maternidade real surgiu do inconformismo de algumas mães com aquela maternidade de comercial televisivo propagada pelos veículos de mídia e por outras mães que vendem um produto a ser consumido em suas redes sociais, como se fosse “vida real”. Essa maternidade eu vou denominar de surreal.
A maternidade surreal nos diz que ficar grávida é estar sempre sorrindo e feliz da vida. Se sentir a mais bela das mulheres durante os nove meses - que na realidade podem ser onze - da gestação. Não me entendam mal, ficar grávida é realmente uma experiência sublime, o problema é que ela nos omite a montanha russa hormonal que é uma gestação. Não menciona nem de longe as dores na virilha e nos ossos da região pélvica. Não fala da angustia e da ansiedade que vem junto com a espera das últimas semanas de gestação. E das dificuldades de fazer sexo durante boa parte gestação? Por Porque sim, grávida faz sexo, ou tenta pelo menos, né.
O que nos vendem na maternidade surreal é uma mãe que sai magra e de jeans do hospital. Puerpério? É bicho papão e não se ouve falar nem falar essa palavra. Na maternidade surreal uma recém-mãe não tem olheiras, está sempre escovada e maquiada. Ela não chora loucamente sem motivo aparente. E jamais pensa: O que eu fui fazer da minha vida?.
Na maternidade na surreal ninguém fala das agruras que sofre o coração de uma mãe. Dos medos constantes e de quantas vezes ela checa se o seu bebê está respirando por dia. Do pânico ao se olhar nua na frente de um espelho e ver seu corpo pós parto, ou pior ainda, compartilhar essa imagem com um companheiro. Ninguém conta que vai ter um dia que teu bebê vai chorar tanto sem motivo aparente que vais acabar sentando do lado dele e chorando junto numa mistura de desespero e cansaço, só desejando que aquilo passe logo.
Na maternidade surreal não nos dizem que um filho demanda de nós a atenção e o carinho que muitas vezes nos faltam. Que essa criança que se tornou teu mundo também te fará sentir tão perdida e deslocada a ponto de olhares no espelho e nem saber mais o que aquela mulher do reflexo quer da vida.
Por esses e outra centena de motivos surgiu a maternidade real, porque é preciso desromantizar, desmistificar. A maternidade real é inclusiva, ela te recebe com suas imperfeições, com as dores da amamentação, com as madrugadas em claro, com o reconhecimento de que falhamos e que muitas vezes não nos amoldamos nos padrões socais.
E tudo bem! Não tem nada de errado nisso, afinal somos todas humanas e consequentemente falhas. Depois de virar mãe a gente ainda vai cair doente, vai ficar carente. Não há perfeição! Somos todas mulheres reais, com suas dificuldades singulares, só que agora lutando para garantir a sobrevivência do ser humano que mais amamos na vida. E nessa luta terão dias ótimos em que tudo vai sair perfeitamente dentro do planejado e outros que você não vai conseguir sequer tomar um banho.
O importante nisso tudo é: eu quero te dizer que ser real não é ruim, porque na tua maternidade real o que te espera é o cheiro do teu filho, o gargalhada do teu bebê, os bracinhos estendidos da tua cria, aquela pela qual tu daria a vida sem titubear, nem pensar duas vezes."
Eu considero muito confortante ouvir outra mãe. Saber que não estamos sozinhas. Saber que também dói em outra pessoa o que dói na gente. Conforta, e dá forças, pois sabendo que outra sente, e que passa, podemos ter certeza que passará conosco também. Obriga Marcella por abrir e dividir tua vivência aqui, e mamães, não esqueçam que o tempo passa rápido, e que logo os dias de sombra passam!
Beijos com mutio carinho!